domingo, 24 de fevereiro de 2008

Mario Afonso (professor de História), escreve

Capitão Gouveia (Cabral) era de fato um navegante?


Acho uma coisa interessante, até por curiosidade, dar uma observada na vida de alguém que deu ponto de partida num marco histórico meio suspeito...a "descoberta" do território Pindorama ao que viria a ser a América Portuguesa. Nada menos que aquele que é conhecido como "Pedro Cabral", segundo Cláudio Vieira, a única viagem que este indivíduo participou antes de 1500, foi em direção a Ceuta para enfrentar os mouros (detalhe: como passageiro). Mas assim mesmo deram-lhe 13 naus com mais de mil tripulantes para comandar, porque?Consta que segundo o sistema de lógica e mérito português, Cabral (que ainda chamava-se Gouveia), estava qualificadíssimo para a a função de capitão de esquadra, já que cortejava Isabel de Castro, prima do rei D. Manuel (O Venturoso) e que exercia a função de camareira-mor da infanta Dona Maria (filha lá do venturoso).(Brasil - Outros Quinhentos, editora Record. 2000)

O MASSACRE INDÍGENA COLONIAL OCORREU?



Este questionamento é fundamental para entendermos que a formação da identidade brasileira foi um verdadeiro PARTO e que a História não mente e portanto não devemos aceitar no mito da zelosa passividade brasileira que conduz ao pacifismo e a resignação (a própria violência em nosso cotidiano contraria esse tipo de argumentação - basta ligar o televisor ou rádio). Portanto, para compreendermos as principais raízes desse processo, torna-se necessário DESCARTAMOS uma visão de História que nos induz a pensar NOSSA história decorando nomes de donatários, de capitanias hereditárias (nem heróis, nem vilões), sem questionar os porquês de como elas foram organizadas e como procediam as pessoas em nosso território no período Colonial.No caso dos indígenas, foi até necessário uma Bula papal (Paulo III) em latim: Universis Christi Fidelibus em 1536 para que fosse reconhecida não só traços, mas a humanidade integral dos originais da terra... isso bastou ou virou quase letra-morta?Olha só! O governador português Antônio de Salema em 1575, era um indivíduo muito prático, resolvera efetuar uma "faxina étnica" onde é hoje a Lagoa Rodrigo de Freitas, com a pretensão de construir um engenho isento de impostos. Diante do problema de que os Tamoios ocupavam aquela área, mandou espalhar roupas contaminadas de doentes de varíola, e como os índios cairam na armadilha, a mortandade espalhou-se pelas aldeias. Depois de ter removido os vermelhos do caminho, conseguiu junto a Coroa um numerário de 3.000 cruzados para a construção do tal engenho...gastou apenas 500 e embolsou o restante e deu o nome ao lugar de NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DA LAGOA. Como podemos notar no exemplo acima, Salema nem levou em consideração que os "indios" fossem humanos, nem deu bola para a Bula papal!Mesmo cometendo anacronismo: qualquer semelhança com grupos de extermínio atuais não é mera coincidência!Continuaremos depois!

PQ ESCONDEMOS A VIOLÊNCIA?


Amigos, vcs já ouviram falar ou leram uma fraseologia histórica de que "O BRASILEIRO É UM HOMEM CORDIAL". Esse mito faz parte da historiografia do século XIX, quando para esconder os massacres ou pelo menos maquiá-los durante o processo de estabelecimento e legitimação do Estado Nacional, aprimourou-se a idéia de pacifismo natural da sociedade brasileira (fazer passar por natural aquilo que não é, grande ardil do grupos que exerce o poder), procurando diferenciar-se dos outros países já republicanos no restante da América Latina. Vamos aqui ver um exemplo da época da preocupação da unidade nacional!"Já no final do século passado, livros didáticos de História do Brasil, reproduziam a história oficial do IHGB e por um dos seus mais ilustres sócios, Francisco Adolfo Varnhagen (...), a História oficial seria compreendida como única história verídica, também a periodização passa a ser ligada a história Política e Administrativa do Brasil, privilegiando a história dos governantes..." (ABUD, Katia Maria. Repensando a História, editora Marco Zero, 1984, pp. 83).Ver também Gilberto Hiram em Sociedade Brasileira, pp 289-290.NA HISTÓRIA O QUE IMPORTA É A VERDADE E NÃO A VERSÃO DE UM DETERMINADO GRUPELHO DE INTERESSADOS!

ÍNDIO ERA PREGUIÇOSO POR ISSO SOMOS TAMBÉM!



Outra mentira, a visão da quase totalidade de pré-colombianos não era a de acumulação ou produção de excedentes, mas de autonomia coletiva, o bem estar coletivo estava acima da concorrência individual levando-se em conta a produção de víveres e não a guerra, Pierre Clastres, irá citar o exemplo do do "status" do cacique guarani como mecanismo de impedir que as diferenças sociais através de um enriquecimento, se tornassem consistentes dando ponto de partida no surgimento do Estado. Sociedades coletivistas dão pouquíssimos espaços para o individualismo. Além do mais é inegável a herança material e cultural que nos foram deixadas.O tabaco que passou a ser industrializado em larga escala a partir do XIX, a cultura de alimentos que era desconhecida dos europeus (mandioca, milho, abóbora, batata doce, amendoim, abacaxi, pimenta, mamão etc..), fubá, beiju, paçoca, canjica, guaraná. Técnicas como coivara, pesca de tarrafa, mutirão, a medicina natural que adotou saberes milenares para produção de quinino para o combate da malária (ela voltouuuu), copaíba, o algodão que é um insumo industrial atualmente, até a arquitetura das casas populares que adotavam o barro e o trançado indígena para construção de palhoças, OS HÁBITOS DE HIGIENE como os banhos constantes, comemos pirarucu no lugar do bacalhau, degustamos açaí com tapioca. Quanto aqueles que se diziam "civilizados" não aprenderam com eles e por conta disso aprenderam a sobreviver?

MITO DA DEMOCRACIA RACIAL


Recentemente abriram um tópico que pretendia discutir a partir do conjunto das obras de Gilberto Freyre com o marco em "Casa Grande & Senzala", o mito da "DEMOCRACIA RACIAL", embora adote-se também democracia étnica. Infelizmente este tópico não ao que parece não irá adiante. Desta forma, como me referi em tópicos anteriores, este mito nasce (embora até isto seja contestado), nos anos 30 quando segundo cito aqui o historiador Fernando Novais, intelectuais como Gilberto Freyre, Caio Prado Júnior e Sérgio Buarque de Holanda etc...vão buscar o nascimento e o sentido da "CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA".De todos eles o mais criticado será o próprio Freyre pois tentará conciliar o problema da democracia as desigualdades sociais, alegando que a democracia racial é imperfeita e visa buscar um constante ajuste pois ainda convive com problemas de preconceitos e discriminações, esse ajuste teórico irá provocar críticas ostensivas principalmente por Florestan Fernandes, pois junto com a maioria dos historiadores raciocinará que a "democracia racial" na verdade é um instrumento de CRISTALIZAÇÃO das desigualdades! E é verdade que diabo de democracia racial é essa em que não há democracia cultural eficiente, e nem social, ao contrário; irá preservar e justificar as diferenças sociais deixando em estado de letargia a luta do negro por mais espaço social.São pouquíssimos os trabalhos expostos na internet que não especulam ou não são despojados demais e sem nenhum rigor. Mas achei este que é bastante esclarecedor e que comenta de forma bem didática o mito de democracia racial! Aqui vai:http://www.fundaj.gov.br/tpd/128.html

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