domingo, 30 de agosto de 2009

Saiu no Vermelho: Planos antidemocráticos de Serra para o pré-sal?

30 DE AGOSTO DE 2009 - 3H34

Planos antidemocráticos de Serra para o pré-sal?

Segundo afirma o colunista Kennedy Alencar, na Folha de S.Paulo deste domingo (30), "o governador José Serra tem dito em conversas reservadas que as regras propostas por Lula [para o petróleo do pré-sal] poderão ser modificadas pelo próximo presidente da República". Ou seja, por ele, Serra, que imaginaria até que as regras "poderiam ser alteradas por medida provisória". Pergunta: e onde fica a democracia?

Por Bernardo Joffily

Kennedy Alencar parece não se dar conta – ou pelo menos não passa recibo – da truculência da hipótese que descreveu. Se não, vejamos.

Lula pretende propor projetos de lei: três, talvez quatro, sobre o marco regulatório do petróleo do pré-sal. Eles tramitarão no Congresso. Serão debatidos na sociedade – que é tudo que o presidente quer, pois é o tipo de debate conveniente a quem pretende eleger o(a) sucessor(a).

Já Serra (Kennedy apresenta o tucano como "líder em todas as pesquisas sobre a sucessão presidencial de outubro de 2010"), diz, segundo o jornalista, "que, aprovadas as regras propostas por Lula, elas poderiam ser alteradas por medida provisória pelo futuro presidente. Não há decisão tomada, mas Serra cogita mudar as regras, caso seja eleito."

"O governador paulista – prossegue Kennedy – tem simpatia pelo modelo atual".

Que Serra tenha simpatias, é um direito. "É legítimo debater", escreve Kennedy. Mas um debate democraticamente submetido à sociedade, à cidadania e ao Parlamento, pode, depois de convertido em leis, ser revogado por uma simples canetada do – autopresumido – "próximo presidente da República"?

"É um debate legítimo", repete Kennedy. "O atual governo e o PSDB deveriam expor claramente quais são suas ideias sobre a forma de explorar o pré-sal. O debate está apenas começando do ponto de vista público. Os projetos de Lula vão sair do Palácio do Planalto para chegar ao Congresso Nacional. É uma riqueza imensa que está em jogo. É bom que cada ator político de peso revele suas verdadeiras intenções."

Tudo bem, é sensato esse raciocínio de Kennedy. Mas não "é bom" nem democrático que um dos atores cogite de tratorar o resultado do debate legítimo caso venha a empunhar a caneta capaz de assinar medidas provisórias.

Compreende-se e desculpa-se que Serra, como presidenciável da oposição, torça o nariz para o fato do pré-sal ter sido descoberto e estar tendo seus parâmetros de exploração no governo Lula. Afinal, lembra Kennedy, "é uma riqueza imensa".

Mas a hora de Serra expor o que defende para o pré-sal é agora, a partir desta segunda-feira, 31 de agosto, ou, se tiver pressa, no jantar com Lula esta noite no Palácio da Alvorada. De qualquer modo, é junto com a sociedade e o Legislativo. Não depois que o debate tiver se concluído. E nunca a canetaços de medida provisória – um recurso que em tese estaria à disposição de Lula, mas que este descartou por respeito à necessidade de discutir da forma mais ampla, democrática e exaustiva possível o que a nação deve fazer com a "riqueza imensa" do pré-sal.


Do Vermelho: Uma imprensa antidemocrática

30 DE AGOSTO DE 2009 - 11H38

Mauricio Dias: Uma imprensa antidemocrática

A imprensa brasileira tem sido adversária histórica das instituições representativas do País.” Essa frase, um dos mais duros veredictos já feitos sobre a imprensa brasileira, é de Wanderley Guilherme dos Santos, professor aposentado de teoria política da UFRJ, fundador do Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro (Iuperj) da Universidade Candido Mendes, e consagrado pela Universidade Autônoma do México, em 2005, um dos cinco mais importantes cientistas políticos da América Latina.

Ela é parte do começo de uma conversa em torno da histórica tendência golpista da imprensa brasileira, que começa assim: “Com o fim da Segunda Guerra Mundial terminou também o Estado Novo brasileiro, ditadura civil que se iniciara em 1937. No mundo todo, mas em particular no Brasil, as elites políticas tradicionais se viram acompanhadas por um eleitorado em torno de 7 milhões, mais de dez vezes superior ao da Primeira República, e um movimento sindical legalizado e participante de algumas estruturas estatais, como os institutos de pensões e aposentadorias dos trabalhadores urbanos”.

Segundo ele, a imprensa brasileira “sem embargo da retórica democrática”, tornou-se a principal adversária das instituições representativas.

“A exemplo de toda a imprensa, denominada grande, latino-americana, “jamais hesitou em apoiar todas as tentativas de golpe de Estado, quando estas significavam a derrubada de presidentes populares ou o fechamento de congressos de inclinação mais democrática”, denuncia Wanderley Guilherme.

“No Brasil – prossegue –, não existe um só jornal de grande circulação que se posicione a favor dos respectivos congressos nacionais, nas esparsas ocasiões em que estes parecem funcionar.”

Por outro lado, ele anota que “toda vez que a direita recrudesce nas urnas, sempre encontra a simpatia midiática”.

“No Brasil, o único período em que o governo contou com o respaldo de algum jornal de certa respeitabilidade foi durante o segundo governo Vargas, com a Última Hora. Não houve um único jornal popular, de grande circulação no Brasil, durante esse período”, diz Wanderley Guilherme.

Última Hora também foi o único reduto jornalístico contra o golpe de 1964, que toda a mídia apoiou. Sem qualquer constrangimento.

Conceitualmente, ele lembra, a imprensa, além de ser um instrumento de difusão de informação e análise, é um ator político “na medida em que forma opinião, agenda demandas e que, eventualmente, beneficia ou cria obstáculos para governos”.

Wanderley Guilherme comenta: “A imprensa brasileira exerce, e tem todo o direito, de ter opinião e preferências políticas. No Brasil, no entanto, ela diz que apenas retrata a realidade. É falso. Há muito da realidade que não está na imprensa e há muito do que está na imprensa que não está na realidade”.

Não é novidade no mundo democrático. Novidade, como explica Wanderley Guilherme, é presumir e passar a impressão de que isso não acontece.

“A imprensa brasileira não tolera a ideia de governos independentes, autônomos em relação às suas campanhas. Isso implica um caminho de duas mãos. Significa que ela terá de sobreviver sem os governos. Então, é preciso que os governos precisem dela”, conclui.

É um retrato do momento que o Brasil atravessa no alvorecer do século XXI.

sábado, 22 de agosto de 2009

MINO CARTA: A FARSA DE LINA VIEIRA

À ficção, sempre

21/08/2009 16:43:36

Mino Carta, na Carta Capital

A bem de razoável sossego entre o fígado e a alma, há muitos anos evito a leitura da imprensa nativa. Há, porém, quem me informe a respeito dos fatos, bem como das peças de humorismo semeadas ao longo das páginas dos jornalões, algumas representadas pelos editoriais. Estas não deixo escapar.

Terça 18 coube ao primeiro editorial da Folha de S.Paulo precipitar minha diversão. Assunto: a situação dos pré-candidatos às eleições de 2010 na pesquisa Datafolha, a registrar que Dilma Rousseff, “a aspirante inventada por Lula”, estacionou em 16%. E veio o momento da hilaridade com as linhas finais, quando o editorialista vaticina “a retomada da frenética fanfarra eleitoral em torno da ministra Dilma Rousseff, sob os mais variados pretextos”.

Ouço os trombones, as tubas, os tambores, e encaro as manchetes das primeiras páginas dos jornalões de quarta 19. Fanfarras eleitorais são sempre a favor ou contra. A ex-secretária da Receita Federal dona Lina Vieira ganhou fotos rasgadas e a concorde glorificação de seu desafio à ministra da Casa Civil e ao próprio presidente da República, que a convidara a exibir sua agenda para provar o célebre encontro. Segundo Folha e Globo, diante da Comissão de Constituição e Justiça do Senado dona Lina disse ter sido submetida a “ingerência desnecessária e descabida”, enquanto, segundo o Estado, o pedido de dona Dilma para “agilizar” o processo Sarney foi simplesmente “incabível”.

O depoimento da ex-secretária foi oferecido à visão do Brasil pela televisão. As manchetes e respectivas chamadas das primeiras páginas não correspondem, no entanto, ao que se viu, para o pasmo dos telespectadores, entre os quais nos colocamos. Resta o esforço patético de transformar dona Lina em misto de diva e heroína, e de construir para dona Dilma a fama de mentirosa. Ao clamor da fanfarra, tal é o edito da mídia nativa, o decreto, na óbvia, desbragada demonstração das manhas midiáticas e do pentagrama de quem, de fato, dirige a banda. Ao menos, a do contra.

Não cabe aqui entrar em pormenores, reservados a texto específico na seção Seu País. Limito-me a buscar incentivos, impulsos, patrocínios ao bom humor, proporcionados de graça por algumas passagens dos nossos jornalões. Por exemplo, pela campanha do Estadão contra certas façanhas imobiliárias do senador José Sarney.

O Zé nacional, como diriam os franceses, é figura muito simpática. Falo do indivíduo, o bom contador de histórias e seresteiro inspirado. Isto vale para quem o conhece bem, na intimidade. Parece, contudo, que somente agora os barões midiáticos descobriram o senhor feudal e o político oportunista, o serviçal da ditadura e o tíbio presidente que ganhou o quinto ano de mandato no grito. O então ministro do Exército, o inolvidável general Leônidas, tinha voz de barítono.

Pois é, o general Leônidas, grande amigo dos senhores globais, como também o era, naquele tempo, o próprio presidente, cujo ministro das Comunicações, Antonio Carlos Magalhães, empenhava-se a fundo para embelezar, digamos assim, a Vênus Platinada.

Já o Estadão, que compartilhou com Sarney a fé udenista, encasqueta nestes dias com certas propriedades do ex-presidente, entre elas um apartamento paulistano em outros tempos habitado por um filho, então estudante universitário em São Paulo. Sarney declara em plenário que o apartamento tem 85 metros quadrados de área útil, o jornal clama: mentira! Pois o imóvel tem 112 metros quadrados. Há limites para tamanho espanto? Quanto a mim, padeço de outros espantos.

Aos meus perplexos botões, pergunto: que passa entre o fígado e a alma (a eterna área miasmática) de um titular de carteirinha de jornalista na hora de sujeitar-se ao ridículo para obedecer à vontade do patrão? Ou de esquecer a verdade factual para dedicar-se à ficção, imaginosa, porém daninha, e conformada aos desígnios dos predadores? Ora, daninha... Por duas razões. Primeira, pois nega a profissão de fé jornalística. Segunda, porque não aproveita ao gênero humano e à cidadania nacional. Ou não seria o caso de preocupar-se com o gênero humano e a cidadania nacional?

Penso naqueles que se prestam ao jogo destes mesmos barões, prontos outrora, por exemplo, a implorar a intervenção dos seus gendarmes para desfechar o golpe de 1964. E também naqueles que chamaram de revolução um regime disposto às mais hediondas violências em nome dos interesses da exígua minoria privilegiada e que tranquilamente aceitaram, quando não celebraram, a derrota das Diretas Já. E ainda naqueles que desde 1989 manobram, cada qual dentro do seu espaço, contra representante autorizado e convincente da maioria acuada, aturdida, basicamente infeliz.

Que vai pelas entranhas destas figuras? Até onde chega o servilismo? Até onde se dobra a genuflexão? Só mesmo a escrita dos grandes pesquisadores d’alma para expor tanta vileza. E noutro dia recordei Nelson Rodrigues, foi quando me deparei com o olhar de Fernando Collor, a invectivar contra Pedro Simon. Eis aí, murmurei aos costumeiros, inevitáveis botões, ao descrever os olhos rútilos (rútilo, adjetivo perfeito) do cafajeste Palhares enquanto observava o andar da cunhada, Nelson Rodrigues já profetizava o caçador de marajás.

A miséria moral dos sabujos da mídia está escrita em algum canto, e tenho a definitiva certeza de que Dante não os omitiu da lista dos condenados. Só resta investigar qual seria, exatamente, a bolgia a eles destinada. A dos mentirosos, onde aliás estaciona Ulisses, o Odisseu, por causa do inesquecível cavalo de madeira, é recanto aprazível demais para a turma.

Cidadãos comuns imaginam o óbvio para explicar quem se curva, a partir da crença de que, na origem, havia uma fé. Um sonho, ou uma ambição, a sombra de um propósito respeitável, de um desenho ético. Quem sabe não houvesse. Digamos, porém, que sim: havia. E se for, por que foi traído? Daí o óbvio: esmigalha-se o sonho em nome do alpinismo carreirístico. E se, de supetão, você se convencesse, até a medula, que o patrão é irretorquível dono da verdade?

Não excluo a possibilidade de que haja entre os meus colegas convictos, sinceros partícipes das visões patronais. Antes estavam na contramão do empregador, de súbito, ou aos poucos, soçobraram diante da luz que os cegava, como Saulo a caminho de Damasco. Creio que para descrever situações deste alcance seria preciso convocar Dostoievski. Donde, abstenho-me de prosseguir. Admito, entretanto, a chance da simbiose. Por exemplo: o doutor Roberto (Marinho, e quem mais?) acreditou cegamente na funcionária Miriam Leitão quando, à sombra da campanha eleitoral de Fernando Henrique Cardoso em 1998, afirmava em sua coluna que o Real era intocável por direito divino e, portanto, fernandista.

Trata-se de um episódio antigo. Agora o assunto é outro, na praça se estabelece a fanfarra. Nem por isso nos livramos da mesmice. Ela mesma, no entanto, perde peso e valor. De comédia se tornou farsa, agora é ópera-bufa, alcançará a bolha de sabão, e sem razão para o mais pálido sorriso. A mídia, tadinha, por mais óbvia, não consegue entender a obviedade. Ela já não chega onde pretende, é arquiteta de factoides.

Não me canso de repetir: o Brasil é o único país do mundo que conheço onde os jornalistas chamam o patrão de colega e o sindicato até se prontifica a entregar-lhe a carteirinha.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Luis Carlos Azenha: OPINIÃO

Lula tem a caneta. Na hora agá, isso decide

Atualizado em 11 de agosto de 2009 às 20:23 | Publicado em 11 de agosto de 2009 às 19:42

por Luiz Carlos Azenha

O objetivo desse texto é "cair na real". É não permitir que você, meu caro internauta, acredite que o Viomundo representa mais que um "nicho de mercado", uma de várias Kombis que passeiam por aí.

Do ponto-de-vista meramente político, o presidente Lula acertou plenamente nas escolhas que fez nas últimas semanas. Ficou com o PMDB e com Sarney. Ficou com a máquina capaz de fazer da candidata dele, Dilma, a futura presidente do Brasil.

Os tucanos e os demos fazem um discurso hipócrita. Eles mesmos sabem que o discurso é hipócrita. O que eles estão tentando fazer é enganar o incauto, aquele que realmente acredita que tucanos e demos estão "enojados" com a corrupção no Senado. Ou seja, uma parcela da classe média metropolitana, aquela que acha a política "um nojo".

Essa classe média, sabemos, não decide eleição no Brasil. Caso contrário, em 2006 teria eleito o almofadinha Geraldo Alckmin. Gostemos ou não, chiemos ou não, o fato concreto é que quem elege o presidente do Brasil é a grande massa de brasileiros que está na classe média baixa.

É gente que identifica quase que por uma sensação epidérmica quem é que defende os interesses dela. E a pretensão dos tucanos e dos demos de representá-la, usando a Folha e a Veja como veículos preferencias dos pobres, é simplesmente patética.

Lula tem a caneta. E ele aplica a caneta no que realmente conta: no reajuste dos benefícios do Bolsa Família, no reajuste dos aposentados, nos reajustes do salário mínimo e nas obras do PAC.

Desculpem, eleitores da Marina Silva. Sei que muitos de vocês são leitores deste site. Mas não quero ser cúmplice dessa enganação de pretender que ela tem "entrada" além da classe média. Não tem. Nem ela, nem José Serra. Não há nada no horizonte que desfaça minha impressão de que em 2010 teremos uma eleição plebiscitária. É Lula contra os inimigos de Lula. E, com a retomada do crescimento econômico, não vejo como será possível derrotar a candidata do Lula.

Sei que muitos eleitores à esquerda vão ficar pês da vida. Mas não dá para ficar com wishfull thinking. A realidade política é que Sarney rende mais votos que Suplicy. Simples assim.

PS: Lula não gasta capital político no que não é essencialmente fundamental para a manutenção de seu projeto político. É isso o que enlouquece tanto a direita quanto a esquerda.

domingo, 9 de agosto de 2009

O Globo, coronelismo de terceira, jornalismo de quê?

Na edição desta sexta-feira, 7/08, O Globo talvez tenha produzido um dos editoriais mais claros quanto aos seus curiosos códigos deontológicos. Com o sugestivo título “O inexplicável", o jornal deixa claro que sua única linha atualmente é a falta de linha. Uma aula de como o partidarismo e o panfletarismo inconseqüente intervêm no discurso dos principais colunistas e repercutem na cobertura, da pauta à edição final.

Assim, quando pressionado por circunstâncias políticas que ameaçam deslegitimá-lo como aparelho ideológico, os editorialistas do veículo reutilizam velhos fragmentos de suas mitologias mais surradas e de escolhas temáticas recorrentes para alcançar o objetivo indisfarçável: a pauta é atingir o governo Lula de todas as formas, inclusive se isso custar a carreira política de um associado e aliado histórico chamado José Sarney.

No primeiro parágrafo, lemos um texto que funciona como burca, filtrando verdades que se exibem aos olhos: "A patética defesa apresentada pelo presidente do Senado, José Sarney, no plenário da Casa, na quarta-feira, e o início da encenação da farsa montada no Conselho de Ética (sic) para recusar sem qualquer investigação as denúncias e representações contra o político maranhense são mais um ato da operação político-eleitoral do Planalto, cujo desfecho será a incineração do Senado como instituição em nome do projeto lulista para 2010."

Todos sabem que jornais selecionam, organizam e hierarquizam os acontecimentos, mas o trecho transcrito parece não deixar dúvidas sobre como deve funcionar uma redação empenhada, acima de tudo, em impedir a aliança PT- PMDB, inviabilizando a candidatura da ministra Dilma Rousseff. Mais que o espaço de opinião do jornal, o editorial de O Globo funciona com memorando interno, uma circular para lembrar aos seus funcionários como explicar e traduzir a vontade de quem lhes paga o salário. Aos recalcitrantes, a demissão é uma certeza.

É preciso repetir diariamente que uma eventual vitória da candidata petista implicaria a desmoralização das instituições políticas, a balbúrdia civil, a permanência da ameaça do controle estatal e censor dos meios de comunicação, além da continuação do distributivismo que ignora os preceitos neoliberais, promovendo a “gastança pública desenfreada”.

O que importa é salvar a oposição de sua falta de projetos, fazendo com que o noticiário editorializado tenha eficácia probatória suficiente para fazer de qualquer Conselho de Ética que não o subscreva a encenação de uma farsa. Nesse contexto, cabe a pergunta: será que a incineração do Senado é uma operação do Planalto ou a combustão é produzida por conglomerados midiáticos com recursos e mão-de-obra qualificada para os custos elevados da operação?

Na página 3, a matéria “Cangaceiro de 3ª classe, coronel de merda", assinada por Maria Lima, Isabel Braga e Leila Suwwan, trata do confronto entre os senadores Renan Calheiros (PMDB) e Tasso Jereissati (PSDB) no plenário do Senado, concluindo que "a sessão mostrou que Sarney perdeu as condições de conter a onda crescente de ameaças e intimidações na Casa". Mostrou "Como"? “Por quê"? “Para quem"? As jornalistas têm o direito de criar “fatos", registrá-los como premissas evidentes por si mesmas? Ou não estamos diante de um relato jornalístico, mas de peça que atende aos interesses dos proprietários e seus sócios mais notórios?

Voltando ao editorial, o início do quarto parágrafo demonstra como o jornalismo global brinca com as palavras, produzindo um conteúdo que pode se voltar contra a própria Organização ao qual está subordinado

"O nepotismo, e não apenas no caso do senador, segue em paralelo ao patrimonialismo - a apropriação privada de recursos públicos"

Alguém precisa lembrar aos editorialistas que em casa de enforcado não se fala em corda. Como bem registra Altamiro Borges, em seu excelente “A ditadura da mídia”,” na lógica patrimonialista vigente do país, instituiu-se um tipo de coronelismo eletrônico que atrela setores do Executivo e do Legislativo às redes de comunicação". É conhecida a força da Globo, que, desde a ditadura militar, tem no Ministério das Comunicações sua província. Um aparelhamento de tal monta que impede a reformulação de uma política no setor, impedindo, entre outras coisas, a adoção de um modelo de televisão digital que democratize a comunicação no país.

É preciso uma ação articulada para evitar que esse tipo de jornalismo crie um sistema político onde a democracia só existirá como o mito de almas heróicas isoladas, como história penetrada de falsas moralidades devidamente blindadas por zelosos funcionários da imprensa.

Quando encerrávamos esse artigo, o portal do Globo tinha como destaque a seguinte chamada: "Simon culpa Lula por crise do Senado". A sintonia entre o senador de ética maleável e o editorial de O Globo é tão intensa que é legítimo indagar: Quem trabalha para quem? Quem é abastecido por uma narrativa classista, partidária e facciosa? De onde partem os tão propalados métodos da máfia napolitana? Um estudo sobre técnicas de edição e certo tipo de prática parlamentar oferece resposta às questões formuladas.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso, no Rio de Janeiro.